O transtorno de personalidade é definido como padrão persistente de experiência pessoal ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo manifestando-se em, pelo menos, duas das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle dos impulsos. Mesmo não sendo considerado doença, os transtornos de personalidade geram perturbação, sofrimento mental e prejuízo ao funcionamento social/ocupacional, sendo caracterizados pela psiquiatria como anormalidades do desenvolvimento psíquico.
Pouco se sabe sobre sua etiologia. Mas considera-se que fatores genéticos, constitucionais, biológicos, ambientais e culturais contribuem juntos ou separadamente para seu desenvolvimento.
Nesses transtornos ocorre desequilíbrio dos afetos e das emoções, as pessoas apresentam dificuldades de controlar os impulsos e os comportamentos inadequados prejudicam os relacionamentos interpessoais. Por isso, pessoas com esses transtornos costumam ser taxadas como incoerentes, problemáticas e difíceis. Tendem ao imediatismo de suas satisfações e apresentam baixo limite a frustrações.
O código internacional de doenças em sua décima edição (CID 10), descreve os seguintes transtornos de personalidade: TP paranóide, esquizóide e esquizotípico, TP borderline, anti-social, narcisista e histriônica, TP dependente, obsessivo-compulsiva e esquiva.
Transtorno de Personalidade Paranóide:
Apresentam um padrão de desconfiança e suspeitas invasivas em relação aos outros, de modo que seus motivos são interpretados como malévolos, que começa no início da idade adulta e se apresenta em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:
- suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado pelos outros
- preocupa-se com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou confiabilidade de amigos ou colegas.
- reluta em confiar nos outros por um medo infundado de que essas informações possam ser maldosamente usadas contra si.
- interpreta significados ocultos, de caráter humilhante ou ameaçador, em observações ou acontecimentos benignos.
- guarda rancores persistentes; é implacável com insultos, injúrias ou deslizes.
- percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são visíveis pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-ataque.
- tem suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual.
Transtorno de Personalidade Esquizóide
Apresentam um padrão invasivo de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:
- não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família.
- quase sempre opta por atividades solitárias.
- manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa.
- tem prazer em poucas atividades, se alguma.
- não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau.
- mostra-se indiferente a elogios ou críticas de outros.
- demonstra frieza emocional, distanciamento ou afetividade embotada.
Transtorno de Personalidade Antissocial
Um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios:
- fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção.
- propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer.
- impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
- irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
- desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia.
- irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras.
- ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa.
- O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
- Existem evidências de Transtorno da Conduta com início antes dos 15 anos de idade.
Transtorno de personalidade Borderline
Um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:
- esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário.
- um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
- perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self.
- impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente).
- recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
- instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias).
- sentimentos crônicos de vazio.
- raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
- ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos.
Transtorno de Personalidade Narcisista
Um padrão invasivo de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:
- sentimento grandioso da própria importância (por ex., exagera realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações comensuráveis)
- preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal.
- crença de ser “especial” e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada.
- exigência de admiração excessiva.
- sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas.
- é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos.
- ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias.
- freqüentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia.
- comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.
Transtorno de Personalidade Histriônica
Um padrão invasivo de excessiva emocionalidade e busca de atenção, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:
- sente desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções.
- a interação com os outros freqüentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor.
- exibe mudança rápida e superficialidade na expressão das emoções.
- usa consistentemente a aparência física para chamar a atenção sobre si próprio
- tem um estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes.
- exibe autodramatização, teatralidade e expressão emocional exagerada.
- é sugestionável, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias.
- considera os relacionamentos mais íntimos do que realmente são.
Transtorno de Personalidade dependente
Uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e aderente e a temores de separação, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:
- dificuldade em tomar decisões do dia-a-dia sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento da parte de outras pessoas.
- necessidade de que os outros assumam a responsabilidade pelas principais áreas de sua vida.
- dificuldade em expressar discordância de outros, pelo medo de perder o apoio ou aprovação.
- dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (em vista de uma falta de autoconfiança em seu julgamento ou capacidades, não por falta de motivação ou energia).
- vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis.
- sente desconforto ou desamparo quando só, em razão de temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si próprio
- busca urgentemente um novo relacionamento como fonte de carinho e amparo, quando um relacionamento íntimo é rompido.
- preocupação irrealista com temores de ser abandonado à sua própria sorte.
Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva
Um padrão invasivo de preocupação com organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade, abertura e eficiência, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:
- preocupação tão extensa, com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários, que o ponto principal da atividade é perdido.
- perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (por ex., é incapaz de completar um projeto porque não consegue atingir seus próprios padrões demasiadamente rígidos).
- devotamento excessivo ao trabalho e à produtividade, em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade econômica).
- excessiva conscienciosidade, escrúpulos e inflexibilidade em assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicados por identificação cultural ou religiosa).
- incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não têm valor sentimental.
- relutância em delegar tarefas ou ao trabalho em conjunto com outras pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as coisas.
- adoção de um estilo miserável quanto a gastos pessoais e com outras pessoas; o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para catástrofes futuras.
- rigidez e teimosia
Transtorno de Personalidade de Esquiva
Um padrão pervasivo de inibição social, sentimentos de inadequação, e hipersensitividade à críticas, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:
- Evitação de contatos sociais que envolvam um significante contato interpessoal, por medo de críticas, desaprovações ou rejeições.
- Só se envolve com pessoas quando tem certeza de que gostarão dele.
- Apresenta certo bloqueio nas relações íntimas por medo de ser envergonhado ou humilhado.
- Preocupação excessiva com críticas ou de ser rejeitado em situações sociais.
- É inibido em novas situações interpessoais por sentimentos de inadequação.
- Vê a si mesmo como socialmente inepto, sem características atraentes.
- É usualmente relutante em tomar riscos ou em engajar-se em novas atividades porque elas podem se tornar embaraçosas