CRP: 04/34045 CREF: 06/01513
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Transtorno de Personalidade

O transtorno de personalidade é definido como padrão persistente de experiência pessoal ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo manifestando-se em, pelo menos, duas das seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle dos impulsos. Mesmo não sendo considerado doença, os transtornos de personalidade geram perturbação, sofrimento mental e prejuízo ao funcionamento social/ocupacional, sendo caracterizados pela psiquiatria como anormalidades do desenvolvimento psíquico.

Pouco se sabe sobre sua etiologia. Mas considera-se que fatores genéticos, constitucionais, biológicos, ambientais e culturais contribuem juntos ou separadamente para seu desenvolvimento.

Nesses transtornos ocorre desequilíbrio dos afetos e das emoções, as pessoas apresentam dificuldades de controlar os impulsos e os comportamentos inadequados prejudicam os relacionamentos interpessoais. Por isso, pessoas com esses transtornos costumam ser taxadas como incoerentes, problemáticas e difíceis. Tendem ao imediatismo de suas satisfações e apresentam baixo limite a frustrações.

O código internacional de doenças em sua décima edição (CID 10), descreve os seguintes  transtornos de personalidade: TP paranóide, esquizóide e esquizotípico, TP borderline, anti-social, narcisista e histriônica, TP dependente, obsessivo-compulsiva e esquiva.

Transtorno de Personalidade Paranóide:

 Apresentam um padrão de desconfiança e suspeitas invasivas em relação aos outros, de modo que seus motivos são interpretados como malévolos, que começa no início da idade adulta e se apresenta em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:

  • suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado pelos outros
  • preocupa-se com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou confiabilidade de amigos ou colegas.
  • reluta em confiar nos outros por um medo infundado de que essas informações possam ser maldosamente usadas contra si.
  • interpreta significados ocultos, de caráter humilhante ou ameaçador, em observações ou acontecimentos benignos.
  • guarda rancores persistentes; é implacável com insultos, injúrias ou deslizes.
  • percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são visíveis pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-ataque.
  • tem suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual.

 

Transtorno de Personalidade Esquizóide

Apresentam um padrão invasivo de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:

  • não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família.
  • quase sempre opta por atividades solitárias.
  • manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa.
  • tem prazer em poucas atividades, se alguma.
  • não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau.
  • mostra-se indiferente a elogios ou críticas de outros.
  • demonstra frieza emocional, distanciamento ou afetividade embotada.

Transtorno de Personalidade Antissocial

Um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios:

  • fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção.
  • propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer.
  • impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
  • irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas.
  • desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia.
  • irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras.
  • ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa.
  • O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
  • Existem evidências de Transtorno da Conduta com início antes dos 15 anos de idade.

 

Transtorno de personalidade Borderline

Um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:

  • esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário.
  • um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
  • perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self.
  • impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente).
  • recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
  • instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias).
  • sentimentos crônicos de vazio.
  • raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
  • ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos.

Transtorno de Personalidade Narcisista

Um padrão invasivo de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:

  • sentimento grandioso da própria importância (por ex., exagera realizações e talentos, espera ser reconhecido como superior sem realizações comensuráveis)
  • preocupação com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal.
  • crença de ser “especial” e único e de que somente pode ser compreendido ou deve associar-se a outras pessoas (ou instituições) especiais ou de condição elevada.
  • exigência de admiração excessiva.
  • sentimento de intitulação, ou seja, possui expectativas irracionais de receber um tratamento especialmente favorável ou obediência automática às suas expectativas.
  • é explorador em relacionamentos interpessoais, isto é, tira vantagem de outros para atingir seus próprios objetivos.
  • ausência de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades alheias.
  • freqüentemente sente inveja de outras pessoas ou acredita ser alvo da inveja alheia.
  • comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes.

 

 Transtorno de Personalidade Histriônica

Um padrão invasivo de excessiva emocionalidade e busca de atenção, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:

  • sente desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções.
  • a interação com os outros freqüentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor.
  • exibe mudança rápida e superficialidade na expressão das emoções.
  • usa consistentemente a aparência física para chamar a atenção sobre si próprio
  • tem um estilo de discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes.
  • exibe autodramatização, teatralidade e expressão emocional exagerada.
  • é sugestionável, ou seja, é facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias.
  • considera os relacionamentos mais íntimos do que realmente são.

 

Transtorno de Personalidade dependente

Uma necessidade invasiva e excessiva de ser cuidado, que leva a um comportamento submisso e aderente e a temores de separação, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos cinco dos seguintes critérios:

  • dificuldade em tomar decisões do dia-a-dia sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento da parte de outras pessoas.
  • necessidade de que os outros assumam a responsabilidade pelas principais áreas de sua vida.
  • dificuldade em expressar discordância de outros, pelo medo de perder o apoio ou aprovação.
  • dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (em vista de uma falta de autoconfiança em seu julgamento ou capacidades, não por falta de motivação ou energia).
  • vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis.
  • sente desconforto ou desamparo quando só, em razão de temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si próprio
  • busca urgentemente um novo relacionamento como fonte de carinho e amparo, quando um relacionamento íntimo é rompido.
  • preocupação irrealista com temores de ser abandonado à sua própria sorte.

Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva

Um padrão invasivo de preocupação com organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade, abertura e eficiência, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:

  • preocupação tão extensa, com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários, que o ponto principal da atividade é perdido.
  • perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (por ex., é incapaz de completar um projeto porque não consegue atingir seus próprios padrões demasiadamente rígidos).
  • devotamento excessivo ao trabalho e à produtividade, em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade econômica).
  • excessiva conscienciosidade, escrúpulos e inflexibilidade em assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicados por identificação cultural ou religiosa).
  • incapacidade de desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não têm valor sentimental.
  • relutância em delegar tarefas ou ao trabalho em conjunto com outras pessoas, a menos que estas se submetam a seu modo exato de fazer as coisas.
  • adoção de um estilo miserável quanto a gastos pessoais e com outras pessoas; o dinheiro é visto como algo que deve ser reservado para catástrofes futuras.
  • rigidez e teimosia

Transtorno de Personalidade de Esquiva

Um padrão pervasivo de inibição social, sentimentos de inadequação, e hipersensitividade à críticas, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por pelo menos quatro dos seguintes critérios:

  • Evitação de contatos sociais que envolvam um significante contato interpessoal, por medo de críticas, desaprovações ou rejeições.
  • Só se envolve com pessoas quando tem certeza de que gostarão dele.
  • Apresenta certo bloqueio nas relações íntimas por medo de ser envergonhado ou humilhado.
  • Preocupação excessiva com críticas ou de ser rejeitado em situações sociais.
  • É inibido em novas situações interpessoais por sentimentos de inadequação.
  • Vê a si mesmo como socialmente inepto, sem características atraentes.
  • É usualmente relutante em tomar riscos ou em engajar-se em novas atividades porque elas podem se tornar embaraçosas